quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta, ao receber a ordem de comando, espalham-se sobre toda a face da Terra
 
Por Antônio Padilha de Carvalho* Especial para o Diário de Cuiabá
 
Livro de influência considerável, porque explana questões de interesse capital a todos nós. Como bem afirma a espiritualidade superior: “Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes, e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte”.
 
De leitura diária obrigatória, deve ser nosso livro de cabeceira e de estudo, para melhor compreensão da Vida.
 
São chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos. Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta, ao receber a ordem de comando, espalham-se sobre toda a face da Terra. Semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar o caminho e abri os olhos aos cegos.
 
O ensino moral do mestre Jesus permanece inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas.

 
Muitas seitas se apegam mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.
 
Todo o mundo admira a moral evangélica; todos proclamam a sua sublimidade e a sua necessidade; mas muitos o fazem confiando naquilo que ouviram, ou apoiados em algumas máximas que se tornaram proverbiais, pois poucos a conhecem a fundo, e menos ainda a compreendem e sabem tirar-lhe as conseqüências. A razão disso está, em grande parte, nas dificuldades apresentadas pela leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria.
 
A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, faz que a maioria o leia por desencargo de consciência e por obrigação, como lê as preces sem as compreender, o que vale dizer sem proveito. Os preceitos de moral, espalhados no texto, misturados com as narrativas, passam desapercebidos. Torna-se impossível apreender o conjunto e fazê-los objeto de leitura e meditação separadas.
 
Buscando evitar inconvenientes, reuniu-se nesta obra os trechos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de cultos.
 
Muitas passagens do Evangelho, da Bíblia, e dos autores sagrados em geral são ininteligíveis, e muitas mesmo parecem absurdas, por falta de uma chave que nos dê o seu verdadeiro sentido. Essa chave está inteirinha no Espiritismo. O Espiritismo se encontra por toda parte, na antiguidade, e em todas as épocas da humanidade. Em tudo encontramos os seus traços, nos escritos, nas crenças e nos monumentos, e é por isso que, se ele abre novos horizontes para o futuro, lança também uma viva luz sobre os mistérios do passado.
 
Esta obra é para o uso de todos; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, além disso, as explicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de agora em diante, de maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios espíritos, não será mais letra morta, porque cada qual a compreenderá, e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à prática do Evangelho.
 
Se a doutrina espírita fosse uma concepção puramente humana, não teria como garantia senão as luzes daquele que a tivesse concebido. Ora, ninguém neste mundo poderia ter a pretensão de possuir, sozinho, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a apenas um homem, nada lhe garantiria a origem, pois seria necessário crer sob palavra no que dissesse haver recebido os seus ensinos. Admitindo-se absoluta sinceridade de sua parte, poderia no máximo convencer as pessoas do seu meio, e poderia fazer sectários, mas não chegaria nunca a reunir a todos.
 
Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por um meio mais rápido e mais autêntico. Eis porque encarregou os Espíritos de a levarem de um pólo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra. Um homem pode ser enganado e pode enganar-se a si mesmo, mas não aconteceria assim, quando milhões vêem e ouvem a mesma coisa: isto é uma garantia para cada um e para todos. Demais, pode fazer-se desaparecer um homem, mas não se faz desaparecerem as massas; podem-se queimar livros, mas não se podem queimar espíritos. Ora, queimem-se todos os livros, e a fonte da doutrina não será menos inesgotável, porque não se encontra na Terra, surge de toda parte e cada um pode captá-la. Se faltarem homens para a propagar, haverá sempre os Espíritos, que atingem a todos e que ninguém pode atingir.
 
São realmente os próprios Espíritos que fazem a propaganda, com a ajuda de inumeráveis médiuns, que eles despertam por toda parte. Se houvesse um intérprete único, por mais favorecido que esse fosse, o Espiritismo estaria apenas conhecido. Esse intérprete, por sua vez, qualquer que fosse a sua categoria, provocaria a prevenção de muitos; não seria aceito por todas as nações. Os Espíritos, entretanto, comunicando-se por toda parte, a todos os povos, a todas as seitas e a todos os partidos, são aceitos por todos. O Espiritismo não tem nacionalidade, independe de todos os cultos particulares, não é imposto por nenhuma classe social, visto que cada um pode receber instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Era necessário que assim fosse, para que ele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade, pois se não se colocasse em terreno neutro, teria mantido as dissensões, em lugar de apaziguá-las.
 
Esta universalidade do ensino dos Espíritos faz a força do Espiritismo, e é ao mesmo tempo a causa de sua tão rápida propagação. Enquanto a voz de um só homem, mesmo com o auxílio da imprensa, necessitaria de séculos para chegar aos ouvidos de todos, eis que milhares de vozes se fazem ouvir simultaneamente, em todos os pontos da Terra, para proclamar os mesmos princípios e os transmitir aos mais ignorantes e aos mais sábios, a fim de que ninguém seja deserdado. É uma vantagem de que não pode gozar nenhuma das doutrinas aparecidas até hoje. Se, portanto, o Espiritismo é uma verdade, ele não teme nem a má vontade dos homens, nem as resoluções morais, nem as transformações físicas do globo, porque nenhuma dessas coisas pode atingir os Espíritos.
 
Mas não é esta única vantagem que resulta dessa posição excepcional. O Espiritismo ainda encontra nela uma poderosa garantia contra os cismas que poderiam ser suscitados, quer pela ambição de alguns, quer pelas contradições de certos Espíritos. Essas contradições são certamente um escolho, mas carregam em si mesmas o remédio ao lado do mal.
 
Sabe-se que os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais do que os homens; que há, entre eles, como entre estes, presunçosos e falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem; sistemáticos, que tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas. Mas sabe-se também que os Espíritos embusteiros não têm escrúpulos para esconder-se atrás de nomes emprestados, a fim de fazerem aceitar suas utopias. Disso resulta que, para tudo o que está fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele Espírito, sendo imprudência aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas.
 
O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual é necessário submeter, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada. Mas esse controle é incompleto para muitos casos, em virtude da insuficiência de conhecimentos de certas pessoas, e da tendência de muitos, de tomarem seu próprio juízo por único árbitro da verdade. Em tais casos, que fazem os homens que não confiam absolutamente em si mesmos? Aconselham-se com os outros, e a opinião da maioria lhes serve de guia. Assim deve ser no tocante ao ensino dos Espíritos, que nos fornecem por si mesmos os meios de controle.
 
A concordância do ensino dos Espíritos é portanto o seu melhor controle, mas é ainda necessário que ela se verifique em certas condições. A menos segura de todas é quando um médium interroga por si mesmo numerosos Espíritos, sobre uma questão duvidosa. É claro que, se ele está sob o império de uma obsessão, ou se tem relações com um Espírito embusteiro, este Espírito pode dizer-lhe a mesma coisa sob nomes diferentes. Não há garantia suficiente, da mesma maneira, na concordância que se possa obter pelos médiuns de um mesmo centro, porque eles podem sofrer a mesma influência.
 
A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.
 
Compreende-se que não se trata aqui de comunicações relativas a interesses secundários, mas das que se referem aos próprios princípios da doutrina. A experiência prova que, quando um novo princípio deve ser revelado, ele é ensinado espontaneamente, ao mesmo tempo, em diferentes lugares, e de maneira idêntica, senão na forma, pelo menos quanto ao fundo. Se, portanto, apraz a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado em suas próprias idéias e fora da verdade, pode-se estar certo de que esse sistema ficará circunscrito, e cairá diante da unanimidade das instruções dadas por toda parte, como já mostraram numerosos exemplos. É esta unanimidade que tem posto abaixo todos os sistemas parciais surgidos na origem do Espiritismo, quando cada qual explicava os fenômenos do mundo visível com o mundo invisível.
 
Esta é a base em que nos apoiamos, para formular um princípio da doutrina. Não é por concordar ele com as nossas idéias, que o damos como verdadeiro. Não nos colocamos, absolutamente, como árbitro supremo da verdade, e não dizemos a ninguém: “Crede em tal coisa, porque nós vo-la dizemos”. Nossa opinião não é, aos nossos próprios olhos, mais do que uma opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa, porque não somos mais infalíveis do que os outros. E não é também porque um princípio nos foi ensinado que o consideramos verdadeiro, mas porque ele recebeu a sanção da concordância.
 
Nossa posição, recebendo as comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, espalhados pelos mais diversos pontos do globo, estamos em condições de ver quais os princípios sobre que essa concordância se estabelece. É esta observação que nos tem guiado até hoje, e é igualmente ela que nos guiará, através dos novos campos que o Espiritismo está convocado a explorar. E assim que, estudando atentamente as comunicações recebidas de diversos lugares, tanto da França como do exterior, reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que há uma tendência para entrar numa nova via, e que chegou o momento de se dar um passo à frente. Essas revelações, formuladas às vezes com palavras veladas, passaram quase sempre despercebidas para muitos daqueles que as obtiveram, e muitos outros acreditaram tê-las recebido sozinhos. Tomadas isoladamente, elas seriam para nós sem valor; somente a coincidência lhes confere gravidade. Depois, quando chega o momento de publicá-las, cada um se lembrará de haver recebido instruções no mesmo sentido. É esse o movimento geral que observamos e estudamos, com a assistência dos nossos guias espirituais, e que nos ajuda a avaliar a oportunidade de fazermos uma coisa ou de nos abstermos.
 
Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro, se procurará o criterium da verdade. O que determinou o sucesso da doutrina formulada no Livro dos Médiuns, foi que, por toda parte, cada qual pode receber, diretamente dos Espíritos, a confirmação do que eles afirmavam. Se, de todas as partes, os Espíritos os contradissessem, esses livros teriam, após tão longo tempo, sofrido a sorte de todas as concepções fantásticas. O apoio mesmo da imprensa não os teria salvado do naufrágio, enquanto que, privados desse apoio, não deixaram de fazer rapidamente o seu caminho, porque tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade compensou, com vantagem, a má vontade dos homens. Assim acontecerá com todas as idéias emanadas dos Espíritos ou dos homens, que puderem suportar a prova desse controle, cujo poder ninguém pode contestar.
 
*Antônio Padilha de Carvalho é palestrante e expositor espírita; Especialista em Educação e Filosofia; Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Artes AMCLA) da COMAB(Confederação Maçônica do Brasil) e colabora com o Diário de Cuiabá.