terça-feira, 9 de setembro de 2014

Questionamentos sobre a atitude espírita no velório

Recentemente, temos sido questionados sobre a atitude espírita mais adequada no velório. Obviamente, o espírita deve ter uma atitude de vigilância moral e espiritual para contribuir efetivamente com o desencarnante, principalmente através da prece e das suas vibrações através da conduta elevada; e com a família bem como os amigos encarnados do desencarnante, através do apoio emocional e espiritual, dentro dos limites naturais que a situação permita.  
 
Isso pode ou não incluir algum esclarecimento doutrinário pontual, desde que solicitado por um único indivíduo ou por um grupo e respeitando a liberdade individual de cada ser humano. Entretanto, alguns confrades nos questionaram a respeito de orientações recebidas em determinados grupos espíritas que recomendavam um trabalho fortemente doutrinário em velórios, seja velório de famílias espíritas ou não espíritas, independentemente desse trabalho ter sido ou não solicitado pela família.
 
Primeiramente temos que relembrar que o assunto velório é muito delicado, pois cada indivíduo reage à desencarnação de um ser querido de uma forma muito particular. Em que pese a muito provável boa intenção dos proponentes da supracitada diretriz, temos que convir que muitos familiares e amigos podem estar em verdadeiro estado de choque, ou seja, em contundente perturbação emocional e espiritual. Ademais, o trabalho de uma vida de amadurecimento religioso não pode ser improvisado, sobretudo em um momento de grande estresse emocional. Como dizem alguns estudiosos norte-americanos: “Na hora da ação, a hora da preparação já passou”.
 
Assim sendo, em princípio, sem maiores detalhes a respeito das nuances que envolvem tal orientação, não podemos concordar com as referidas sugestões. Não é possível elaborar um grupo de estudo ad hoc para o velório (e o que é pior, para velório de qualquer tipo de família). A iniciativa poderia ser modificada e melhorada consideravelmente se fosse para ser formado um grupo de estudos na casa espírita que abordasse temas como velório, morte, adaptação ao mundo espiritual etc.
 
Seria interessante, por exemplo, o estudo das obras de André Luiz, a obra "Voltei" de Irmão Jacob, entre outras obtidas pela mediunidade de Chico Xavier. Poderíamos também citar “Memórias de Um Suicida” de Yvonne Pereira e as obras de Manoel P. Miranda pelo médium Divaldo Franco. Tais obras deveriam ser utilizadas objetivando, obviamente, o estudo dentro da Casa Espírita. Daí a constituir um grupo que vá a "velórios espíritas ou não espíritas, para orar, e fazer uma explanação" vai uma enorme diferença. Portanto, a não ser que exista um convite bem explícito, que represente o desejo de toda a família, tal iniciativa não seria interessante, pois poderia acarretar situações desagradáveis de conflito religioso e antipatia, totalmente dispensáveis, principalmente para o Espírito desencarnante, em momento de tamanha comoção.
 
De fato, nem sempre o “grupo de estudos e exposição espírita” será bem-vindo no velório, sobretudo em se tratando de velórios não espíritas! E mesmo em velórios espíritas, nem sempre somos amigos da família e nem sempre a família quer que haja "explanações".
 
Neste contexto, fomos igualmente interrogados sobre o respeito que devemos ter pelas orientações dos dirigentes espíritas que recomendaram tal iniciativa. Essa também é uma questão que requer necessariamente grande cota de educação, tato, bom senso e preparação doutrinária.
 
A "hierarquia" no Movimento Espírita é dada em primeiro lugar pelo amor e pela autoridade moral (enfim, pelo elevado caráter e pela bondade) e pelo conteúdo doutrinário dos participantes, juntamente com a coerência e simplicidade de atitudes associadas à ação de cada trabalhador dentro da instituição espírita. Claro que devemos respeitar os cargos e a direção da Casa e/ou órgãos espíritas, assim como as respectivas responsabilidades associadas a cada posição no Movimento Espírita, mesmo quando tenhamos opiniões divergentes a respeito de algum ponto doutrinário ou diretriz institucional. Mas isso não quer dizer que a direção da Casa esteja necessariamente correta, do ponto de vista doutrinário, em todas as suas determinações.
 
A Doutrina Espírita tem por meta encaminhar-nos à Verdade e é para isso que estudamos e trabalhamos, a fim de que “a Verdade nos liberte” de nossas mazelas morais. Entretanto, o Espiritismo também ensina-nos o “Livre-arbítrio” e que “A cada um é dado conforme suas obras”, implicando que não conseguiremos, e muito menos deveremos, violentar a consciência de quem quer que seja, independentemente da situação. Nosso trabalho é de educação global, e, para que isso ocorra de forma eficaz, temos que respeitar o tempo requisitado pelos indivíduos.
 
Somente a constância no estudo doutrinário fará com que nós tenhamos segurança doutrinária para, juntamente com uma "humildade dinâmica", poder avaliar a qualidade de cada informação que é veiculada no movimento espírita, seja de origem mediúnica ou não. Essa atitude é fundamental porque individualmente somos membros do Movimento Espírita, e teremos, é claro, nossa cota de responsabilidade pessoal pelo que fizermos e pelo que não fizermos como células do Movimento Espírita.
 
*Por LEONARDO MARMO MOREIRA em O Consolador, em Crônicas e Artigos, Ano 8 - N° 378 - 31 de Agosto de 2014