segunda-feira, 27 de março de 2017

O valor das pausas entre as conversas

Vivemos num mundo de impaciência pela demora das respostas. Para tudo, sobretudo, talvez, em relação a filhos.

As gerações mais antigas até se saem bem com a sobrevivência sem respostas imediatas às mensagens de e-mails ou nas redes sociais. Mas que se experimente emitir um zap para um filho que saiu da escola há algum tempo, sem obter resposta rápida. Poucos não se deixam tomar pela preocupação, ou mesmo por uma ansiedade obsessiva. E não me refiro apenas aos outros, como se eu mesma fosse isenta do mal do século. Falo por experiência própria.

O problema em relação a isso se agrava, para o médium, se começamos a refletir esse padrão indesejável na convivência com a Espiritualidade. Porque, para tudo, a vida, nessas outras dimensões melhores, obedece a um ritmo diferente das nossas realidades provisórias de reencarnados. Acontece, portanto, completamente liberta deste gênero de neurastenia.

Noutro dia, com o carisma amoroso do costume, o meu mentor desencarnado, Caio, me passava compassiva descompostura.

Pela enésima vez, é possível, eu repetia para ele, durante um dos nossos intercâmbios, a sabatina a que, provavelmente, ele já me respondera também um sem-número de vezes:

- Caio, às vezes me sinto desamparada! Por que você não me responde?! Justo naqueles momentos em que mais preciso de orientação?!

Ora... – Ele deve ter pensado lá consigo próprio, de dentro da santa paciência de que todo benfeitor espiritual é dotado – E eu lá tenho culpa se ela tira a tomada do soquete e quer que eu faça a tv funcionar?

Mesmo assim, se revestiu de fôlego para me explicar mais uma vez.

- “Nunca deixo de lhe responder. Mas você baqueia, voluntária ou involuntariamente a sua condição vibratória, e fica difícil estabelecer sintonia. Além do mais, tem dificuldades de se recordar do que já lhe expliquei. Observe se durante a aplicação de uma prova qualquer professor se põe a falar sem parar com os estudantes, desviando-lhes a atenção do que leem, interrompendo-os com orientações mal colocadas, em momento impróprio. Assim, há casos vários, enquanto nos demoramos na matéria, meu amor, em que, por mais que estejamos ao lado, acompanhando, sabemos que não é hora de interferir! Porque vocês estão capacitados para mostrar mérito na resolução das situações! Em elevado número de vezes se saem bem, sem que precisem de ajuda, embora o amor, o irradiemos ininterruptamente, via empatia! Eu nunca me ausento, portanto, do seu lado; mas há momentos em que, ou você é barulhenta demais e não nos ouve, ou corta a nossa sintonia por vibrar num padrão inadequado, ou simplesmente prescinde, sem que note, da minha ajuda!”

Suspirei, constrangida. Retomei o senso, dirigindo-lhe o devido pedido de desculpas pelo mau humor sem cabimento e, como não poderia deixar de ser, entrei em reflexão útil.

Queremos, de maneira despótica por vezes, a assistência, a sugestão, a resposta de nossos benfeitores do invisível como crianças birrentas diante da lição valiosa da escola que nos importuna; mas a convivência com eles não pode ser como a que diariamente realizamos via redes sociais. Estas nos servem para o lazer, para a troca de informações cotidianas de menor ou maior importância, mas, mesmo assim, não deveríamos nos escravizar a elas a ponto de não respeitar as necessárias pausas entre as conversas.

Afinal, nossos amigos têm múltiplas ocupações. No lar ou na rua, podem estar ocupados com uma infinidade de coisas que lhes desviam a atenção da maquininha tirana, que hoje em dia todos carregamos em nossas bolsas e carros como esquisita extensão mecânica de nós mesmos.

Com a Espiritualidade amiga, no entanto, essa verdade fala mais alto.

A comunicação entre dimensões acontece de forma instantânea, obediente a leis universais que superam, de longe, a idolatrada eficiência virtual da tecnologia terrena - todavia, também eles, os nossos mentores e amigos do mundo invisível, têm multiplicidade de atividades. Afinal, habitam uma esfera da vida muito mais rica, e de horizontes muito mais amplos do que nos permitem, aqui, as limitações da materialidade. Não podem, portanto, nos pajear a cada segundo no estágio de aprendizado do qual devemos dar conta de mérito próprio, enquanto nos demorarmos por aqui.

Mas isso não quer dizer que, especialmente o mentor, que nos acompanha desde antes do nosso reencarne, devotado à sublime missão de amparo, se desligue de nós, ou do que nos acontece, por um momento que seja, pelas vias instantâneas da linguagem do coração.

É que, para eles, fica muito mais claro o que as pausas entre as conversas representam, sendo na vida material muito mais preciosas do que as palavras, porque é na sua duração que se vivencia, se exemplifica, e se dá mostras de valor, em nome de tudo que justifica a nossa e a sua presença amorosa ao nosso lado enquanto nos demoramos na missão de aprendizado e aperfeiçoamento fraterno deste mundo. 

Texto publicado no site da Revista O Consolador, em Crônicas e Artigos, Ano 10 - N° 509 - 26 de Março de 2017 por Chistina Nunes